Aspectos Típicos das Casas da Aldeia
As casas mais antigas da aldeia não seriam muito diferentes das outras casas beirãs. A maioria eram casas de lavoura que procuravam responder às necessidades práticas do dia a dia dos seus habitantes.
No que respeita à planta, no piso térreo, era comum existir a loja, cozinha com lareira, por vezes um curral, arrumos para lenha e outros, com chão em terra batida ou lajado a xisto, com o mínimo de aberturas de forma a reduzir a perda de calor. A existir piso superior, poderia ter a cozinha, mas seria sobretudo compartimentado em quartos.
A região é geralmente xistosa, sendo por isso estas rochas muito usadas nas construções, existindo também arenitos (grés) em Alveite e Olho Marinho que forneciam as pedras avermelhadas que por vezes também encontramos nestas casas. Por serem rochas duras e homogéneas eram utilizadas para lintéis, parapeitos, molduras, até mesmo em casas senhoriais (como se observa em alguns edifícios relevantes da Lousã) por ser uma alternativa fácil ao transporte de calcários provenientes de paragens mais longuínquas (como Ançã ou Vila Seca).[1]
A pedra ficava à vista e os alpendres e corrimãos de escada eram em madeira resinosa, por vezes com a inclusão de uma escada na frontaria da casa. O telhado sem forro, sobre o ripado, era de telhas de meia cana e com beirado. As casas coladas umas a seguir às outras ao longo da rua, possuíam o quintal nas traseiras, por vezes com eira ou pátio interior.
Mais tarde, começou-se a rebocar e caiar as paredes e a aplicar o tijolo, nomeadamente o tijolo burro (cheio), incluindo ocasionalmente nalguns aspectos decorativos, como os corrimãos de escada e molduras, e a usarem-se janelas em guilhotina com caixilho em madeira. As paredes eram rebocadas com areia e água misturada com cal parda. O chão, já acimentado, podia ser corado com cores vivas, como o azul e o vermelho, assim como eram pintados os portões com chapa de zinco.
Eram excepção algumas casas aburguesadas que já seguiam as tendências e estética das casas urbanas, de comerciantes que viviam grande parte do tempo fora da aldeia, com negócios em cidades como Coimbra, Porto, Lisboa ou Seia.
A beleza da arquitectura popular não era algo apreciado como é hoje, e, por isso, actualmente são poucas as casas de lavoura que mantêm a sua estética original. Foram acompanhando os desenvolvimentos que se verificaram no resto do país, influenciados também pela emigração. Felizmente o número de casas devolutas na aldeia é relativamente baixo, quando comparado com outras aldeias do interior.
- Álvaro V. Lemos. A Lousã e o Seu Concelho: Monografia, 1950 ↩︎