Casas do Alpendre por Aniceto Carvalho
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A ocupar a curva do Alpendre, onde acabava a ladeira de Couchel e começava o planalto, era a casa do Ti Adelino do Alpendre. Uma casa de três partes: A cozinha e um anexo, em pedra nua sem reboque, ainda na ladeira, a seguir à casa da Senhora Marquinhas, depois duas dependências térreas pegadas, por fim a habitação do Ti Adelino uma sobreloja bonitinha que deixava perceber não havia muito tempo reconstruída ou remodelada. Nas dependências viviam a Tereza […], ao lado a “prima Maria”, a mãe da Tereza e da “prima Virgínia”, (primas sei lá porquê), a mulher do Ti Adelino.
A “prima Maria”, uma mulher viúva, pequenina e mirrada, era a dona das três frentes do lado esquerdo da rua, nas quais morava com a filha casada e com a Prazeres, e de uma outra casa em frente, do outro lado, onde vivia a outra filha a Maria, a mãe do Alberto “Mascarenhas”. […]
Quantas vezes estive lá em casa, mão mais que um pardieiro, a arrastar comigo o Alberto para a brincadeira, ou para esperar por ele para alguma das nossas anteriormente combinada. Não me lembro de a ter visto repreender o filho, mal humorada com alguém ou com a vida.
Era uma mulher pequenina, só pele e osso, por certo devido às vezes que tirava o comer da sua boca para que o filho não passasse fome. Talvez por isso tenha morrido muito cedo.
Meu melhor amigo desde ainda antes de ter entrado na escola de Vale de Vaz um ano depois de mim, o Alberto “Mascarenhas” era um tipo impecável que, quando estivemos pela última vez juntos nos nossos trinta anos de idade me deixou a indelével marca de ser alguém com quem se podia contar. […]
Depois que saí da terra só nos voltámos a encontrar aos trinta anos. Nunca mais. Foi pena. Acredito que tenhamos perdido ambos a suprema oportunidade de termos sido na vida dois grandes e verdadeiros amigos.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.