Personalidades que por cá passaram — Eugénio Sanches da Gama

Casa das Fontainhas

Sobre o professor Eugénio de Albuquerque Sanches da Gama podemos ler na monografia de Vila Nova de Poiares por Manuel Leal Júnior:[1]

Era natural da Lousã, onde nasceu em 1864, falecendo em Coimbra em 1933. Era filho do Dr. José Augusto Sanches da Gama, que foi Lente de Direito da Universidade de Coimbra, o qual se tornou conhecido pelos seus estudos sobre a matéria de águas no Código Civil. Foi autor da letra do Hino Académico e um seu cunhado, José Medeiros, grande rabequista, autor da música.

Este era professor do Liceu de Leiria cerca do ano de 1905, onde faleceu.

O Dr. Eugénio foi professor de Matemática e Ciências Naturais. Era também poeta, tendo publicado o seu primeiro livro de versos em 1885. Chamava-se «Primaverais».

Depois de ter frequentado o curso acima citado, formou-se em Direito, concluindo a formatura em 1892. Escreveu ainda os livros «Relicário de Simão Botelho» e «Pela Vida Fora». Colaborou na revista «Boémia» ao lado de António Nobre, Alberto de Oliveira e António Homem de Melo.

Antes de iniciar a sua vida de professor foi durante 7 anos comissário da polícia em Aveiro, onde depois foi professor do liceu, transferindo-se depois para Coimbra.

Casou com uma ilustre senhora, D. Maria Elisa Ferreira Pinto de Carvalho, sobrinha-neta do Sr. P.e Doutor Francisco Ferreira de Carvalho, natural de Couchel, tendo nascido na «Casa das Fontainhas». Eram pais do Dr. Sanches da Gama[2] que foi médico e Subdelegado de Saúde neste concelho e avô do Sr. Dr. José Maria Sanches da Gama, médico nos Hospitais de Coimbra.

Segue-se um dos poemas que consta em “Primaveraes”, intitulado “Noite de Aldeia”:

Ouve-se o chio arrastado
dos carros de bois, nas quelhas,
e o balido das ovelhas
e o latir dos cães do gado.

A natureza feliz
desdobra o seu manto ao vento;
das flôres fez o matiz
e das folhas fez o assento.

E na penumbra do monte,
dubiamente iluminado,
destaca o perfil nevado
das casas no horisonte.

A ribeirita pequena,
que desce pela collina,
reverbera a tremulina
da lua branca e serena.

E a lua tranquilla dorme
na amplidão celestial,
como uma perola enorme
'numa concha colossal.

— Eugenio Sanches da Gama, 1885

Para terminar, um soneto do poeta dedicado à Serra da Lousã, que sempre marcou presença no nosso horizonte em Couchel:[3]

Serra da Lousã

Montanha tutelar da minha infância
Que mil lembranças do passado encerra…
Nem nunca te assolou a dura guerra,
Nem perturbou a tua amena estância.

Dentre os pinhais de salutar fragância,
Os fumos brancos dos casais da Serra
Lembram manchas de neve sobre a terra
Azuladas na bruma da distância…

Berço de meus Avós, Montanha austera
Tens a nobre expressão grave e sincera
Donde irradia a paz serena e calma…

Como eu me sinto bem quando te vejo!
Ó Montanha sagrada, o meu desejo
Seria difundir-te na minh’Alma!

— E. Sanches da Gama


  1. Manuel Leal Júnior. Vila Nova de Poiares: Monografia. Atlântico Editora, 1978 ↩︎
  2. Seriam ainda pais de Tomás Sanches da Gama, que viveu na Casa das Fontainhas no final dos anos 40. ↩︎
  3. Álvaro V. Lemos. A Lousã e o Seu Concelho: Monografia, 1950 ↩︎