Logogrifos do Padre Francisco de Carvalho Lucas
Conta Dias Ferrão a respeito do padre Francisco de Carvalho Lucas:[1]
Tinha grande aptidão e paciência para decifrar charadas. Algumas decifrou em verso, com muita graça. Muitas destas decifrações publicou no «Jornal de Notícias», do Pôrto, e noutros jornais, que eram muito procurados e estimados pelos amadores dêste género de quebra-cabeças. No “Eco de Poiares”, semanário que em tempo se publicou nesta vila, encontram-se algumas, decifradas em verso, que mereceram os louvores das pessoas competentes, nao só pela própria charada, como pela elegância dos versos, que muita graça tinham.
De facto, este padre seria interessado por logogrifos, dos quais era também em ocasiões autor. Logogrifos são enigmas em que as letras ou sílabas de uma palavra, que serve de conceito, formam outras palavras que se devem adivinhar.
No “Almanach de Lembranças Luso-Brazileiro para o Anno de 1867” encontramos um exemplo de um logogrifo concebido pelo padre:[2]
A terceira com a quarta
Uma somma é verdadeira
De partes, que são expressas
pela segunda e terceira.Não há ninguem que não tenha
A quarta junta á primeira;
E poucos há que dissolvão
A quarta que é derradeira.Has de ter exp’rimentado
Muita vez a principal
Co’a primeira da segunda
E a segunda da final.A primeira da primeira,
Com terceira, e quarta, dão
Um parente muito próximo,
Uma suave expressão.Se procuras um retiro
Aprazivel para a gente,
Junta a terceira e primeira
Com a quarta finalmente.Tenho em tudo um meio termo:
Não sou rico, nem sou pobre;
Não sou alto, nem sou baixo;
Não sou villão, nem sou nobre.