Notícias na Comarca de Arganil na Década de 1940

30 de Setembro de 1949 #

Casamento — Realizou-se na capela de Couchel o casamento do sr. Aretino Ferreira Henriques, natural de Vale de Vaíde, com a sr.ª D. Albertina Dias Fonseca. Foram padrinhos: pela noiva, a sr.ª D. Maria da Conceição e o sr. José Fonseca; e por parte do noivo, o sr. Tiago Ferreira Henriques e esposa, sr.ª D. Adelaide Ferreira Henriques.

14 de Novembro de 1947 #

Vários acidentes

Receberam tratamento no hospital da Universidade de Coimbra: […] Joaquim Ferreira de Carvalho, de 30 anos, solteiro, de Couchel (Poiares)

05 de Setembro de 1947 #

  • Já se encontram entre nós muitos dos nossos conterrâneos que veem descansar uns dias junto de suas familias, depois de um ano de labuta pela vida em várias localidades do país. […]
  • Também na sua quinta em Couchel se encontram a sr.ª D. Adelaide Ferreira, esposa do sr. Tiago Henriques, importante comerciante no Porto, e filhinho, Tiago Alcino Ferreira Henriques

05 de Agosto de 1947 #

Casa do Concelho de Poiares

Lisboa, 3. — A Casa do Concelho de Poiares vai sortear, no dia 29 do corrente, dois lindos serviços de chá e café, cujo produto se destina à compra de determinado número de aparelhos cirúrgicos, a ofertar ao hospital de Beneficiência Poiarense.

Conta-se por conseguinte, não só com a boa vontade, mas com o esfôrço de todos os sócios, para que a passagem das senhas, cujo preço é de 2$50, com direito a dez números, se faça na maior escala possível, e tendo em atenção a que só faltam vinte e poucos dias para o sorteio.

Poiarenses! Não esqueçam a vossa terra e a assistência àqueles que lá residem, e que daquele hospital poderão ter necessidade de se servir!

A direcção dá conhecimento de que nas suas últimas reuniões foram aprovados sócios os srs. António Rodrigues Lucas, Victor Carvalho Santos, Abel Inácio Ferreira, Joaquim Ferreira da Silva, Albino Dias da Silva, Eugénio Lopes, José Ferreira, Américo Craveiro, José Simões Gândara, Silvino Rodrigues Tavares, Joaquim António da Cunha, Araújo Alves Ferreira, António Lopes Simões, Casimiro Diogo e António Henriques Martins (de Couchel).

14 de Janeiro de 1947 #

No seu automóvel, foi a Lisboa, tratar da negócios, tendo regressado já à sua quinta de Couchel, o sr. Tiago Ferreira Henriques. Acompanharam-no os srs. José Ferreira de Lima e Saturnino Henrlqaes, agente reformado da Polícia de Viação, e Alberto Vaz Henriques, ficando êste em Campolide como auxiliar do seu amlgo sr. Avelino Lopes de Carvalho.

26 de Novembro de 1946 #

Aniversário Natalício. — Hoje, completa mais um ano de existência o sr. Antonino Martins Pedroso, natural de Couchel (Poiares). Por tal motivo, apresentamos-lhe sinceras felicitações e desejos de que esta data se repita por dilatados anos.

08 de Novembro de 1946 #

Em Couchel

Vale de Vaíde (Poiares), 5. — No próximo dia 10 realiza-se em Couchel a festa de Santo António, que promete não ser inferior às dos anos anteriores, devido ao esfôrço e boa vontade da comissão respectiva, que deseja dar-lhe grande luzimento. Será abrilhantada pela apreciada filarmónica de Poiares, que é, hoje, uma das melhores da nossa região, como o afirmam os povos aonde ela se tem apresentado.

29 de Outubro de 1946 #

Encontra-se na sua quinta de Couchel o sr. Tiago Ferreira Henriques, importante comerciante no Porto, acompanhado de sua esposa e filhinho.

14 de Setembro de 1943 #

Falecimento — Na sua casa de Couchel, faleceu, há dias, o sr. António Martins Junior, proprietário e antigo negociante.

12 de Março de 1943 #

Agradecimento

António Ferreira Henriques e sua família, veem por êste meio, na impossibilidade de o fazerem pessoalmente, patentear o seu grande reconhecimento a tôdas as pessoas que se dignaram incorporar-se no funeral de sua inesquecivel e saudosa esposa, irmã, cunhada e tia, Antónia da Anunciação Lima Henriques, falecida em 28 de janeiro findo e cujo acompanhamento se realizou da sua residência, em Couchel, para o cemitério de Poiares.

Agradecem ainda a tôdas as pessoas que se interessaram pelas suas melhoras, durante a prolongada doença a que sucumbiu. Igualmente agradecem ao seu médico assistente, sr. dr. Sanches da Gama, mui digno delegado de Saude nêste concelho, o zêlo, carinho e assiduidade de que deu provas.

A todos, a sua eterna gratidão.

Couchel (Poiares), 3 de marco de 1943.

12 de Fevereiro de 1943 #

D. Antónia da Anunciação Lima

Foz de Arouce, 8. — Após cruciante e prolongada enfermidade, faleceu na povoação do Couchel, freguesia e concelho de Vila Nova de Poiares, a sr.ª D. Antónia d’Anunciação Lima Henriques, de 67 anos, esposa do sr. António Ferreira Henriques, considerado comerciante em Queluz; irmã do sr. José Pedroso de Lima e das sr.ªs D. Jesuína Pedroso de Lima Lucas, D. Maria Pedroso de Lima Colaço, D. Virginia Pedroso de Lima Costa e D. Cesaltina Pedroso de Lima Carranca; e cunhada dos srs. José Fernandes Costa, comerciante na Amadora, António Colaço, comerciante em Lisboa, e José Fernandes Carranca, industrial na Lousã.

O triste acontecimento causou o maior pesar, porque a extinta era dotada das mais primorosas qualidades, motivo por que tôda a gente tinha por ela a maior simpatia. O seu funeral constituiu uma verdadeira manifestação de pesar, nele tendo tomado parte inúmeras pessoas de tôdas as condições sociais, não só do concelho de Poiares, como do da Lousã.

Às borlas do ataúde organizaram-se os seguintes turnos: 1.°, Tiago Henriques, Octávio Henriques de Carvalho, Avelino Lopes de Carvalho, Heliodoro de Carvalho e Hipólito Lucas de Carvalho; 2.°, Abranches Henriques de Carvalho, António Lucas de Carvalho, Alfredo Lucas de Carvalho, Hipólito Fernandes Carranca, António Carranca e João Alves Coelho; 3.° Pedro Francisco, António Colaço, António Ferreira Henriques, Artino Ferreira Henriques, Alcino Henriques Vaz de Carvalho e Hipólito Pedroso de Lima; 4.°, Luiz Jorge, José Jorge, José Maria Pedroso, Manuel Martins, Adelino dos Reis e José Paulo Serra; 5.°. Adelino Martins, António Henriques, José Maria Pedroso Júnior, Virgilio da Costa Marvão, Manuel Ribeiro e António Vaz de Carvalho; 8.°, Eugénio dos Santos, Mário Julio Lima, André Ferreira de Carvalho, Saul Duarte de Carvalho, Angelo Duarte Vitorino e António Dias Ferreira; e 7.°, Francisco Ferreira Henriques, Alberto Ferreira Henriques, António Colaço, José Fernandes Costa, Matias Fernandes Pedroso e Gregório Fernandes.

A urna ficou depositada em jazigo de família, no cemitério de Santo André de Poiares.

23 de Junho de 1942 #

Foz D’Arouce, 16. — No lugar de Couchel, do vizinho concelho de Poiares, faleceu no dia 7 do corrente, após cruciante sofrimento, a sr.ª D. Maria Amelia de Jesus Pedroso, de 63 anos, esposa do sr. Matias Fernandes Pedroso, mãe do sr. José Fernandes Pedroso e das sr.ªs Maria da Purificação e Jesuina Fernandes da Silva, sogra do sr. António Fernandes da Silva, irmã do sr. José Raul Simões e tia dos srs. dr. António Fragoso d’Almeida, juiz em Gouveia e de sua esposa sr.ª D. Maria do Carmo Pedroso d’Almeida, António Pedroso Coimbra, Tito Livio Ferreira Alves, António Martins, D. Maria Julia Alves Pedroso, D. Maria dos Prazeres Pedroso, D. Laura Alves Pedroso, D. Maria do Céu Martins Pedroso e Luciano Rodrigues da Silva, e cunhada dos srs. António e Alvaro Fernandes Pedroso.

A extinta, que era natural da Quinta da Mata, desta freguesia, foi um modelo de esposa e maã, deixando as maiores saudades a tôda a sua família e a quantos a conheciam.

O seu funeral foi muito concorrido por pessoas de tôda a freguesia de Poiares e das circunvizinhas. Às borlas do ataúde, organizaram-se os seguintes turnos: 1.º, Francisco Carvalho França, José Carvalho d’Oliveira, José Simões Colaço, João Augusto Pedroso, Manuel Ribeiro e Eduardo José Simões; 2.º, Francisco Ferreira Henrqiues, Daniel Ferreira de Lima, Alcino Henriques Vaz de Carvalho, António Colaço, Fernando Sêco e Abranches Henriques de Carvalho; 3.º, José Pedroso de Lima, José Fernandes Costa, Alberto Carvalho Henriques, Joaquim Sequeria Vaz, Arsénio Carvalho d’Oliveira e Fausto de Moura Correia.

16 de Junho de 1942 #

Faleceram: […] em Couchel, a sr.ª Maria Amélia, esposa do sr. Matias Fernandes Pedroso.

15 de Abril de 1941 #

Contando 22 anos de idade, faleceu no lugar do Couchel, deste concelho, o sr. António Martins Pedroso, solteiro, negociante, filho do sr. Joaquim Pedroso, residente em Coimbra

21 de Fevereiro de 1941 #

Virginia Ferreira Alves Pedroso — Faleceu — Agradecimento

Maria Júlia Alves Pedroso, Maria dos Prazeres Alves Pedroso, Laura Alves Pedroso e Tito Lívio Ferreira Alves, veem por esta forma testemunhar o seu reconhecimento a tôdas as pessoas que se incorporaram no funeral de sua sempre chorada e saudosa mãi, Virginia Ferreira Alves Pedroso, o qual teve lugar no dia 21 de dezembro último para o cemitério de Poiares, e bem assim as que lhes manifestaram, por qualquer outra forma, o seu pesar.

Couchel (Poiares), 10 de fevereiro de 1941.

31 de Janeiro de 1941 #

Honrando a memória de um morto ilustre

Vila Nova do Ceira, 29. — Vimos, com prazer, pela reportagem d’A Comarca de Arganil, que nas festas realizadas há pouco tempo, com tanto brilhantismo, em Vila Nova de Poiares, entre outros muitos nomes ilustres, também foi lembrado o padre Francisco Ferreira de Carvalho Lucas, grande matemático, de Couchel, o qual durante bastantes anos foi pároco desta freguesia.

Também em sufrágio de sua alma foi há poucos meses aqui celebrada uma missa, tendo o nosso pároco, sr. padre Caetano Lucas dos Reis, convidado o povo a assistir ao piedoso acto, e vendo-se, entre os assistentes, com os seus alunos, o professor sr. Joao Antão Dias, antigo amigo do ilustre sacerdote.

Honremos os nossos mortos queridos.

21 de Janeiro de 1941 #

Também na vizinha povoação de Vale de Vaz, freguesia e concelho de Poiares, e depois de um atroz sofrimento, faleceu no passado dia 4 o sr. António Lucas de Carvalho, que contava 68 anos. Deixou viúva a sr.ª D. Jesuína Pedroso de Lima e era pai dos srs. Hipólito Lucas Carvalho, António Lucas Carvalho e Alfredo Lucas Carvalho, negociantes em Queluz e na Amadora, sogro da sr.ª D. Maria Jesuina Carranca Junior, e cunhado dos srs. António Colaço, José Carranca Junior, José Pedroso de Lima, António Henriques e José Fernandes Costa. O funeral realizou-se para o cemitério de Poiares, ficando o corpo sepultado em coval reservado. No cortejo fúnebre encorporaram-se inumeros fihos da Lousã e Poiares.

Subitamente também faleceu em Couchel a sr.ª D. Virginia Ferreira Alves Pedroso, viúva do sr. José Fernandes Pedroso. Contava 64 anos e era mai das sr.ªs D. Maria Julia, Maria dos Prazeres e Laura Alves Pedroso e do sr. Tito Lívio Ferreira Alves, sogra dos srs. António Fernandes Pedroso e Albano Fernandes Pedroso, comerciantes em Vila Verde (Seia), Matias Fernandes Pedroso e António Martins Junior, e tia dos srs. dr. António Fragoso de Almeida, juiz de Direito em Gouveia, António Carvalho Coimbra, guarda-livros e Luciano Rodrigues da Silva. Foi uma senhora muito virtuosa, educando seus filhos na moral cristã. Deixou muitas saudades a tôda a gente, pois era uma pessoa dotada de boas qualidades de caracter e de coração. Teve também um funeral muito concorrido, sendo a chave da urna confiada ao sr. Antonio Fernandes Pedroso.

24 de Dezembro de 1940 #

Uma aposta curiosa de há mais de meio século

Lisboa, 12-12-940.

… Sr. director de «A Comarca de Arganil»: — Deseja v. que lhe diga se Raimundo dos Santos Natividade, que, em novembro de 1872, como noticiou «O Comercio do Pôrto», teve o arrojo de apostar com António Bernardo Ferreira (da Casa Ferreirinha da Régua), António José Lopes Antunes e António Moreira da Silva, em como iria do Pôrto a Amarante, um percurso de cêrca de 67 quilómetros, em quatro horas, montado no seu cavalo branco, era natural de Vale de Vaz, concelho de Poiares.

Com muito prazer posso informar v. de que Raimundo Natividade não era natural de Vale de Vaz, nem nunca lá residiu.

Todavia, a sua pregunta não vem fora de propósito, porque, se não estou em erro, que facilmente se podia verificar pelo registo d'óbito, vinha a ser o pai ou tio de Joaquim dos Santos Natividade, que por essa época mantinha duas carreiras de deligências, sob a firma Manuel dos Santos Natividade & C.ª, para a Figueira da Foz e para a Chamusca, com diferentes mudas e ligações para outros intermédios. Estas deligências, únicos meios de transporte dêsse tempo, é que levavam as malas do correio. Mais tarde, esta carreira de deligências acabou, porque outras se meteram de permeio. E, então, Joaquim dos Santos Natividade montou uma carreira para Góis, em seu nome individual, de que muitas vezes me aproveitei para fazer o trajecto de ida e vinda para Coimbra, quando era estudante do liceu desta cidade. Era assim que a gente então andava!

Este Joaquim dos Santos Natividade, conhecido pelo Natividade de Vale de Vaz, era perito em equitação e tinha óptima mão de rédea, pelo que traçava no pó da estrada com o seu carro o seu próprio nome, como se o escrevesse no papel com uma pena. Casou na Casa de Couchel com a sr.ª D. Julia Ferreira Pinto Basto, pelo que se ligou a uma das mais ilustres famílias do meio de Poiares. E, como mantinha as carreiras de deligências para a Beira, construiu, em terreno de sua esposa, uma casa ao fundo da povoação de Vale de Vaz, onde passou a residir, e onde tinha o gado destinado à muda. Esta casa já não existe.

Do casamento com D. Júlia Pinto Basto, que poucos anos viveu, ficaram-lhe dois filhos, que foram meus condiscipulos no liceu. O mais velho — José dos Santos Natividade — é proprietário em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, onde reside. E o mais novo, Carlos dos Santos Natividade, seguiu a vida militar e fez parte do corpo expedicionário d’Africa, sob o comando do general Roçadas. Foi professor de esgrima no Colégio Militar, e, sendo promovido a coronel, esteve a comandar o regimento de Cavalaria aquartelado em Aveiro, onde faleceu recentemente, já na situação de reserva.

Seu pai, o dito Joaquim dos Santos Natividade, faleceu há poucos anos, em Vale de Vaz, sua última residência, em idade provecta.

Era, como já disse, perito em equitação, e sabia, como pouca gente, os segredos do ensino dos cavalos, de que fazia tudo o que queria, sera empregar grande esforço ou violência.

Pedi-lhe uma vez para me ensinar ao carro dois magníficos pôldros, que comprei na Herdade do Pinheiro, concelho de Alcacer do Sal, o que êle prontamente satisfez, entregando-mos prontos e completamente domados ao serviço. E disse-me nessa ocasião:

– Os cavalos lhe ensinei eu, o cocheiro ensine-o o senhor.

A várias pessoas ouvi, e êle próprio mo confirmou: que, vindo uma vez a Arganil, no seu tempo de rapaz, quando tinha em exploração a carreira de deligência para a Chamusca, por volta de 1880, com duas parelhas de cavalos atrelados a um carro, enfiou pela estrada do Senhor da Agonia e subiu pelo Mont’Alto até à capela de Nossa Senhora. Deu a volta, e desceu para Arganil, onde lhe fizeram uma grande manifestação de simpatia e admiração, pelo seu arrojo e grande pericia na arte de bem conduzir. É possivel que actualmente em Arganil pouca gente conheça esta aventura desse homem que tinha confiança em si para se arriscar a uma jornada tão perigosa. Mas o facto é verdadeiro.

Neste tempo, a política de Poiares estava dividida em dois grupos irredutiveis, que, com frequência, se hostilizavam. Eram, ambos, de rija têmpera.

Tinha um como chefe supremo o dr. Antonino Ferreira Lima, primeiro médico municipal do concelho de Poiares, que era uma inteligencia superior e uma energia indomável. Tinha sido um dos estudantes mais laureados da Universidade de Coimbra do seu tempo, e era um grande clinico. Fazia da medicina um sacerdócio. Não fazia politica com ela. Os seus maiores adversários confiavam nele e tinham-no por seu médico. Fora desta profissão, era violento, na palavra, na escrita e nos próprios actos, que ultrapassavam os maiores excessos.

Tinha o outro como chefe o antigo secretário da câmara, Francisco Correia da Costa, e em sua volta os homens de dinheiro, as casas mais ricas, de Abraveia, S. Miguel e Moinhos. E, no entretanto, não venciam o médico.

Joaquim dos Santos Natividade estava ligado pelo casamento, na Casa de Couchel, à Casa de Abraveia, para onde tinha ido sua cunhada, a sr.ª D. Augusta Ferreira Pinto Basto, por ter casado com José Maria Henriques de Carvalho. E, para ser agradável ao grupo politico contrário ao dr. Ferreira de Lima, prestava-se a tudo o que quizessem fazer dele. Sucedeu que, nos dias 17 e 18 do mes de agosto de 1871, segundo se lê na carta do dr. Ferreira Lima, publicada no n.º 33 do «Trovão da Beira», teve lugar uma pescaria na «bage» do rio Ceira, DO lugar de Segade, promovida pelo mesmo dr. Ferreira Lima, que também havia solicitado préviamente licença das religiosas do Convento de Semide, para abrir o açude, que forma a mencionada «bage», e que era propriedade daquele Mosteiro. Nesses dias reuniram-se, em Segade, as pessoas de maior representação dos concelhos de Poiares, Lousã e Miranda do Corvo, que ali vieram a convite do dr. Ferreira de Lima, que era a pessoa de mais vulto naquela região. Superiormente a esta «bage», havia outras «bages», que, embora de extensão menor, tinham, contudo, bastante água em represa. Eram da Casa da Abraveia. E logo que se soube que estava em curso a pescaria da barragem das freiras de Semide, tocaram a rebate os políticos contrários, e foram também pescar para o rio Ceira. Não nas águas turvas, mas abrindo as represas superiormente situadas, que logo se esvasiaram e encheram a das freiras. E começaram os contrários a sua pesca com enorme algazarra, acompanhada de muitos foguetes.

Faça v. ideia do desespêro em que deviam estar o dr. Ferreira Lima e os seus convidados!…

Mas a desfeita não ficou por aqui. Nesta altura chegaram de Coimbra, na deligência, e foram juntar-se ao grupo da «bage» das freiras, o conselheiro José Adelino Ferreira de Lima, que foi secretário geral do govêrno civil do Pôrto, há anos falecido, e o dr. António Gomes da Silva Sanches, de Pombeiro, director do «Trovão da Beira», bi-mensário que então se publicava em Coimbra, e que, ao tempo, eram ambos estudantes de Direito na Universidade.

Ali ficou o dr. Sanches, fazendo a sua perna nesta pândega de pescaria politica, que, apesar da desfeita dos contrários, nao perdeu a animação. Porém, no dia 18, o último da pescaria, o dr. Sanches esperou na estrada a deligencia do Natividade para nela se conduzir até à Moita da Serra, e, de lá, seguir noutro transporte para a vila de Arganil. A deligencia chegou. E, apesar de ter lugares vagos, e ele já estar munido de bilhete desde Coimbra, o cocheiro não o admitiu uo carro, porque tinha ordem do patrão Natividade para tanto, sob pena de ser despedido.

Estava o dr. Sanches na estrada, ao pé de Segade… e teria de ir a pé para Arganil, porque outro meio de transporte não havia. Sucedeu que, no grupo, estava o administrador do concelho de Poiares, que era o tenente miliciano João Ferreira de Lima, tio do médico e pai do conselheiro Ferreira de Lima, que, alegando o que determinava o regulamento das deligências de carreira de passageiros, intimou o cocheiro a receber o dr. Sanches. E lá vai ele na deligência!…

Mas em Vale de Vaz havia muda. O Natividade devia lá estar, pelo que, ponderado bem o caso, acharam que o director do «Trovão» não passava daquele lugar, se coisa peor lhe não sucedesse, o que não seria muito para admirar, porque o «Trovão» tozara fortemente os políticos da facção da Abraveia.

E então resolveram seguir, nos transportes que tinham, a deligência da Beira até Vale de Vaz. Logo que se aproximaram da casa do Natividade, viram o dr. Sanches a protestar sózinho no meio da estrada, o Natividade a rir-se, muita gente de Couchel em volta, e diz o «Trovão da Beira» (carta do dr. Ferreira Lima, de 22 de agosto de 1871, publicada no n.° 33) que tambem lá estavam, em grande rizadas, algumas senhoras.

Faltou ao pobre dr. Sanches vestirem-lhe uma túnica, por-lhe uma coroa na cabeça e uma cana na mão, para se rirem dele à vontade. Tudo lhe fariam, se novamente o administrador de Poiares não voltasse a impor a sua autoridade, animado e instigado pelos companheiros, que já estavam ruborizados com a brincadeira. Então o Natividade desapareceu, o grupo dispersou-se, e as senhoras, se ainda estivessem presentes, também davam ausência de corpo. O dr. Sanches voltou a entrar na deligência e seguiu a sua viagem cómodamente pela Casconha acima.

E Alberto Ferreira Pinto Basto, cunhado do Natividade, e na ausência deste, ficou intimado de que se o dr. Sanches fosse novamente desfeiteado no decurso do caminho, o Natividade seria o responsável e iria habitar por alguns dias a cadeia de Poiares, onde muito bem lhe poderia acontecer o que ele havia preparado para o director do «Trovão». Aqui tem v., sr. director, duas histórias verdadeiras, que pouca gente sabe e que podem pôr-se ao lado da aposta que Raimundo Natividade ganhou aos do Pôrto.

Seu velho amigo, — J. Dias Ferrão.