Pastor de Vale da Casa
Em Vale da Casa vivia um pastor de nome António. Homem simples e simpático, retornado de Angola, com inúmeras histórias para contar. Os seus queijos frescos, que vendia ao quilo, eram bastante procurados pelas pessoas da redondeza.
Todos os dias da semana o pastor pegava no seu almoço e no seu chapéu bombardeiro de lã, e fazia, com várias dezenas de cabras e ovelhas, o caminho de cerca de dois quilómetros que liga ao sítio dos Marmeleiros, em Couchel. Aí ficava até ao final do dia.
De todos os animais de que o pastor cuidava destacavam-se duas avestruzes adultas. Certo dia, uma das avestruzes soltou-se e fugiu, obrigando o pastor a pedir auxílio. Juntaram-se algumas pessoas que só à noite lhe conseguiram deitar mão. A avestruz terá percorrido uns quantos quilómetros pois na semana seguinte foi encontrado um ovo desta espécie de ave na Passaria,[1] no terreno onde estão os pinheiros-mansos. O ovo foi drenado e guardado como lembrança física desse episódio.
O pastor António manteve-se a apascentar o gado em Couchel ao longo dos anos 90 e primeira década do novo século, durante vários meses do ano. O avançar da doença de Alzheimer acabaria por o privar dessa rotina, e o pastor de Vale da Casa deixou de vir para estas paragens.
- Este local é referido como “Passaria” ou “Parceria”. ↩︎