“Esta laboriosa terra, no que respeita a melhoramentos, dorme o sono dos justos!”. Assim começa o artigo “Couchel e as suas necessidades”, de Abril de 1932, em que é detalhado que a “principal necessidade de Couchel, presentemente, é um chafariz com água potável, pois a fonte de chafurdo que possui deve desaparecer por ser antiigiénica”.[1] Para endereçar o problema, recomendava-se a união dos filhos da terra através de uma comissão de melhoramentos.
A 20 de Setembro de 1932, publicava a Comarca de Arganil que começavam os “trabalhos da abertura da vala para a colocação das manilhas destinadas à canalisação de água para a fonte da Bica”.[2] Ainda a propósito da fonte, a 6 de Janeiro de 1933, o mesmo jornal noticiava que “devido ao tempo invernoso que tem feito, foram interrompidos os trabalhos de construção do nosso chafariz. Oxalá melhores dias venham para aqueles trabalhos recomeçarem, pois é da maior necessidade”.[3]
Em 1963 são anunciados trabalhos de beneficiação nas fontes de mergulho de várias localidades de Poiares, estando incluído Couchel.[4] É expectável que tal se referisse à Fonte da Bica, no entanto existiam à data outras duas fontes de mergulho ou de chafurdo, a mina da Quinta das Fontainhas e a Fonte das Tortas.
Em 1964, a actual administração do concelho mostra preocupação com o facto de Couchel e Vale de Vaíde não “poderem continuar a utilizar as fontes que agora possuem”, considerando que os casos requerem uma “urgente e condigna solução”.[5] Em 1967,[6] e novamente em 1968,[7] é noticiado que o “projecto de abastecimento”, “a partir do poço aberto em Casal do Gago” está “em plena execução”.
A fonte foi, como em muitas outras aldeias portuguesas, fundamental para o fornecimento de água para as necessidades do dia a dia. A água canalizada aos domicílios tardaria a chegar. Publicava-se a 24 de Agosto de 1976 que tais trabalhos estariam “quase terminados”,[8] mas as obras são novamente notícia em 1977[9] e 1978, sendo destacado o papel da população, que contribuíra em “grande escala, com o seu trabalho e alguns subsídios”.[10]
Em abril de 2017 foi recebido com grande expectativa o anúncio que seriam realizadas obras de requalificação da rede de abastecimento de água em várias aldeias, incluindo Couchel. Tais obras incluíriam a remodelação da conduta de abastecimento de água entre Couchel e Vale de Vaíde, num investimento estimado em 51.165 €.[11]
Em Novembro de 2017 era noticiado que em Couchel tinha sido “totalmente substituída a rede de abastecimento não só de água como de saneamento e águas pluviais”.[12] No entanto, a maioria das habitações continua a ser servida com a antiga canalização dos anos 70 que, de acordo com vários testemunhos, é em fibrocimento. Por essa razão, apesar da água de Poiares ter recebido o Selo de Qualidade Exemplar da Água para Consumo Humano,[12] em Couchel muitos habitantes continuam a utilizar água engarrafada para a alimentação de forma a evitar os riscos para a saúde do amianto, uma matéria-prima cancerígena de utilização proíbida em Portugal desde 2005.
Como nos descreve Aniceto Carvalho nas suas notas “Retalhos de Couchel”, as casas desta quinta, “as últimas de Couchel, antes do Seixo Branco, ocupavam uma boa parte da rua do lugar: da adega, a seguir à casa das Piloas, em frente da quelha do Valezinho ao pomar, este por trás da casa de habitação, bem em frente das janelas da Casa das Fontainhas”.
Manuel Vaz de Carvalho nascido em 1847,[1] casou na década de 70 do século XIX[2] com Ana Emília de Carvalho.[1] Tinha como cunhado o Padre Francisco de Carvalho Lucas, irmão da sua esposa e herdeiro de metade da sua herança.[1] Morava nesta quinta, tendo ainda a sua cargo a quinta da Avessada. Deste casamento resultaram cinco filhos, dois rapazes e três raparigas, tendo o seu filho Antonino, nascido em 1877,[1] assumido mais tarde a gestão das quintas. Albertina Vaz de Carvalho, irmã de Antonino, ficaria a viver na Casa da Avessada.
É então que em 1919 é noticiada a tragédia: “Antonino Vaz de Carvalho, por causa de uma torneira, altercou com sua irmã Albertina Vaz de Carvalho, acabando por agredi-la com a mesma torneira e desfechando contra ela uma espingarda, cuja descarga se lhe foi alojar no ventre, falecendo duas horas depois. Comunicado o caso ao administrador do concelho de Poiares, este mandou imediatamente cercar a casa do assassino, procedendo à sua prisão”.[3] Antonino deu entrada na cadeia da comarca, em Penacova, onde se suicidou. O corpo seguiu para Braga, onde a família da viúva possuía um jazigo.[4]
A recém viúva chamava-se, tal como a falecida irmã de Antonino, Albertina, mais concretamente, Albertina da Conceição Guimarães Nogueira Vaz de Carvalho[1]. É possível que esta tenha decidido voltar para junto da sua família em Braga, pois alguns anos após a tragédia a propriedade é colocada à venda. Esta é anunciada nos jornais, como se pode ver na Gazeta de Coimbra de 13 de Novembro de 1923[5] ou na Comarca de Arganil de 10 de Janeiro de 1924: “Prédio denominado «Vila Albertina», em Couchel, no concelho de Poiares — composto de casas de morada, abegoarias, terras de semeadura, olival, grande extensão de matos, mobiliário, engenhos de tirar água, etc. A 500 metros da Estrada da Beira. Dirigir a Albano D’Andrade, na Lousan.”[6][7][8]
A Quinta viria a ser comprada por Abel Inácio Ferreira, de Venda Nova, a viver no Bairro Santos de Lisboa, após o seu casamento[2] com Helena Anahory Ferreira.[9] Conta Aniceto Carvalho: “Não era todos os dias que um homem com uma filha na puberdade mantinha o ardor apaixonado de afixar um faiscante «VILA HELENA» à altura do primeiro andar na esquina da casa de habitação, virado para a rua, a idolatrar a mulher”.[2] Abel manteve esta quinta durante cerca de duas décadas. No entanto, pouco tempo passarão em Couchel.[2] Em 1932, regista a Comarca de Arganil: “Vinda de Lisboa, encontra-se na sua explendida Vila Helena, a esposa do nosso amigo sr. Abel Ferreira Inácio,[10] que vem assistir às vindimas.”[11] Durante todo este período foi feitor da quinta Alfredo Ferreira de Carvalho, que vivia na Casa da Ladeira (a primeira à direita para quem sobe vindo da Estrada da Beira).[2]
Mas, conta-nos novamente Aniceto, “a Dona Helena não era dali, a província não era o seu meio, Couchel não era a sua terra…”.[2] É então que em 1943 a propriedade é novamente colocada à venda. “VENDE-SE uma propriedade em Poiares, no lugar de Couchel, composta de casas de sobrado, pátio para abegoaria e adega, com terras de semeadura, oliveiras e videiras, tudo num só bloco e grande testada de mato e pinheiros. Quem pretender, dirija-se ao local, à sua proprietária Helena Ferreira.”[12]
Foi assim que a quinta foi comprada a 22 de Setembro de 1943 por Tiago Ferreira Henriques, de Vale de Vaíde, comerciante de calçado no Porto e sobrinho de António Henriques, que também vivia em Couchel. Tiago viria a falecer no Porto em 1953[13] e a viúva, Adelaide Ferreira Henriques, natural da freguesia de Cedofeita,[9] ter-se-á desfazido da casa para ficar pelo Porto.[2] A propriedade é novamente anunciada nos jornais e é então que Adriano Francisco, natural de Penacova, após um negócio não conseguido no Luso, encontra esta quinta e a adquire, a 23 de Novembro de 1959, mantendo-a até aos nossos dias.
Algumas curiosidades sobre esta quinta:
A respeito desta casa escreve Aniceto Ferreira Carvalho o seguinte:[1]
“O Abel Ferreira era um homem fantasticamente dinâmico… depois de meses de azáfama com as lides marítimas, nada melhor que a sua Quinta para retemperar as forças, a trabalhar lado a lado com o meu avô, a fazer colossais bandejas de doces dos frutos das árvores do pomar.
Apareceu um dia com uma torre tripé em ferro, ia instalar electricidade na casa. Com o meu avô como ajudante de electricista, subiu ao telhado, aplicou uma ventoinha ao cimo da torre, um ou dois dias depois toda a casa resplandecia de luz e som de rádio por todo o lado.
Foi na Quinta que eu vi e ouvi o primeiro aparelho de rádio a funcionar, era à casa do Senhor Abel da Venda Nova que eu ia todas as noites com o meu avô ouvir as últimas da Segunda Guerra.”
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
A Casa das Fontainhas, por vezes referida em alguns documentos como a Casa de Couchel, é uma casa tipo apalaçada de grande importância patrimonial para o concelho de Vila Nova de Poiares. A construção actual é datada de 1769 mas, segundo registos orais, teria vestígios medievais ou romanos, em particular, uma fonte de água.
Viveram nesta casa nomes importantes para a região, como o Padre Doutor Francisco Ferreira de Carvalho, professor ligado à Universidade de Coimbra com várias obras publicadas,[1] e o Dr. José Sanches da Gama, “ilustre clínico e delegado de saúde deste concelho”.[2]
Terá sido habitada durante vários séculos, no entanto, terá também vivido alguns períodos de abandono, nomeadamente no período anterior ao final dos anos 40.[3] É nessa altura que, já como propriedade do Dr. Tomás Sanches da Gama, recebe importantes obras de restauro.[2] Há cerca de 20 anos a casa sofreu novas obras profundas, mas sempre mantendo a sua traça original.
Algumas curiosidades sobre esta casa:
A respeito desta casa escreve Aniceto Ferreira Carvalho o seguinte:[1]
“Por carência de bens ou hábito ancestral a frugalidade na aldeia era o dia a dia… contudo, um aglomerado de trinta casas que vinha sabe-se lá de onde nos séculos à Casa das Fontainhas, Couchel teria muitos tesouros de história escondidos nas pedras ancestrais.
A Casa das Fontainhas terá resultado da descoberta de ouro no Brasil, por certo uma consequência do período de maior riqueza na história de Portugal, no Século XVIII, em particular no reinado de D. João V.
«Só é pena estar num poço» – considerei. E com efeito: A não ser por antigas e profundas razões sentimentais familiares, não era fácil de compreender um solar senhorial, obviamente de algum brilho à época e local, acoitado na parte de trás de Couchel, onde a velha rua do lugar se inclinava num baixio húmido e sombrio.”
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Sobre este padre podemos ler na monografia de Vila Nova de Poiares por Manuel Leal Júnior:[1]
Era natural do lugar da Lombada, deste concelho, que nessa altura pertencia ao concelho de Tentúgal.
Frequentou com muita distinção a faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, obtendo o grau de Doutor em 31-7-1827, vindo a ser professor da mesma faculdade, cuja regência manteve durante bastantes anos, imortalizando-se pela sua conduta e proverbial bondade.
Era muito estimado pelos seus discípulos e passava por nunca ter lançado um R na caderneta escolar dos seus discípulos.
Residia no lugar de Couchel, na «Casa das Fontainhas», e a família que o rodeava era das mais respeitáveis do concelho.
Escreve ainda José Dias Ferrão sobre o mesmo:[2]
O dr. Francisco Ferreira de Carvalho, doutorou-se na Faculdade de Cánones da Universidade de Coimbra, em 31 de julho de 1824. Posteriormente, entrou no magistério da sua Faculdade, onde chegou a lente catedrático.
O ensino das ciencias teológicas, jurídicas e sociais, estava dividido na Universidade de Coimbra em três faculdades: Teologia, Canones e Leis, perfeitamente autónomas, apesar das ligações que as ciencias nelas versadas tinham entre si, havendo até cadeiras comuns para os que frequentavam as diferentes faculdades.
A reforma universitária de 1837 fundiu a faculdade de Cánones com a de Leis, resultando dessa fusão a nova faculdade de Direito, para onde passou o ensino dos sagrados Canones, mais simplificado, porque o Direito Canónico, depois da famosa Lei Aurea ou da Boa Razão, passou a ter menor importância, e o ensino da Lei.
Ficando, assim, extinta a faculdade de Canones, o professor Francisco Ferreira de Carvalho transitou para a de Direito, e foi reger a cadeira de Direito Eclesiástico Português, no 5.º ano, onde foi substituído, depois de aposentado, pelo dr. José Pereira de Paiva Pita […]
Após a sua aposentação, o dr. Carvalho veio acolher-se ao confôrto da família, de seu irmão e sobrinhos, senhores da Casa de Couchel, onde viveu o resto da vida e aonde existia há poucos anos, na sala principal, o seu retrato, como recordação do seu nome ilustre.
Foi nesta Casa de Couchel que êle recebeu a visita de Alexandre Herculano a que já me referi nas colunas deste jornal, e que anda ligada à celebre carta escrita do Mosteiro de Lorvão ao estadista António de Serpa Pimentel, sôbre o estado miserável em que jaziam as tristes freiras daquele convento, e que lhes fôsse votada uma modesta pensão para não morrerem de fome e de frio.
Sobre o professor Eugénio de Albuquerque Sanches da Gama podemos ler na monografia de Vila Nova de Poiares por Manuel Leal Júnior:[1]
Era natural da Lousã, onde nasceu em 1864, falecendo em Coimbra em 1933. Era filho do Dr. José Augusto Sanches da Gama, que foi Lente de Direito da Universidade de Coimbra, o qual se tornou conhecido pelos seus estudos sobre a matéria de águas no Código Civil. Foi autor da letra do Hino Académico e um seu cunhado, José Medeiros, grande rabequista, autor da música.
Este era professor do Liceu de Leiria cerca do ano de 1905, onde faleceu.
O Dr. Eugénio foi professor de Matemática e Ciências Naturais. Era também poeta, tendo publicado o seu primeiro livro de versos em 1885. Chamava-se «Primaverais».
Depois de ter frequentado o curso acima citado, formou-se em Direito, concluindo a formatura em 1892. Escreveu ainda os livros «Relicário de Simão Botelho» e «Pela Vida Fora». Colaborou na revista «Boémia» ao lado de António Nobre, Alberto de Oliveira e António Homem de Melo.
Antes de iniciar a sua vida de professor foi durante 7 anos comissário da polícia em Aveiro, onde depois foi professor do liceu, transferindo-se depois para Coimbra.
Casou com uma ilustre senhora, D. Maria Elisa Ferreira Pinto de Carvalho, sobrinha-neta do Sr. P.e Doutor Francisco Ferreira de Carvalho, natural de Couchel, tendo nascido na «Casa das Fontainhas». Eram pais do Dr. Sanches da Gama[2] que foi médico e Subdelegado de Saúde neste concelho e avô do Sr. Dr. José Maria Sanches da Gama, médico nos Hospitais de Coimbra.
Segue-se um dos poemas que consta em “Primaveraes”, intitulado “Noite de Aldeia”:
Ouve-se o chio arrastado
dos carros de bois, nas quelhas,
e o balido das ovelhas
e o latir dos cães do gado.A natureza feliz
desdobra o seu manto ao vento;
das flôres fez o matiz
e das folhas fez o assento.E na penumbra do monte,
dubiamente iluminado,
destaca o perfil nevado
das casas no horisonte.A ribeirita pequena,
que desce pela collina,
reverbera a tremulina
da lua branca e serena.E a lua tranquilla dorme
na amplidão celestial,
como uma perola enorme
'numa concha colossal.— Eugenio Sanches da Gama, 1885
Para terminar, um soneto do poeta dedicado à Serra da Lousã, que sempre marcou presença no nosso horizonte em Couchel:[3]
Serra da Lousã
Montanha tutelar da minha infância
Que mil lembranças do passado encerra…
Nem nunca te assolou a dura guerra,
Nem perturbou a tua amena estância.Dentre os pinhais de salutar fragância,
Os fumos brancos dos casais da Serra
Lembram manchas de neve sobre a terra
Azuladas na bruma da distância…Berço de meus Avós, Montanha austera
Tens a nobre expressão grave e sincera
Donde irradia a paz serena e calma…Como eu me sinto bem quando te vejo!
Ó Montanha sagrada, o meu desejo
Seria difundir-te na minh’Alma!— E. Sanches da Gama
Alfredo Moreno Mendiguren nasceu em Buenos Aires em 1925, mas foi criado e educado em Lima, Peru. Estudou Direito em San Marcos e, depois de exercer alguns anos como advogado, ingressou no serviço diplomático.[1] Foi adido da imprensa da Legação do Peru na Bélgica[2] e, mais tarde, Cônsul Geral do Peru em Lisboa.[3] Foi ainda publicista, redator do diário “La prensa” (editado em Lima) e subsecretário da Presidência da República do Peru.[4]
Alfredo casou-se em 1950 com D. Raquel Sanches da Gama Moreno, filha de Maria Amélia Câncio Mendes Sanches da Gama e do Dr. Tomás Sanches da Gama, à data proprietários da Casa das Fontainhas.[2]
Com vários livros publicados, destaca-se “Soplón” de 1963, uma obra de ficção sobre a corrupção no poder político, e que se inspira na sua breve passagem pelo mundo da política. A primeira edição desta obra manteve-se no primeiro lugar de vendas por vários meses e foi recentemente republicada.[1]
Ao que contam sempre se preocupou com o progresso da terra onde cresceu, onde aplicava todo o dinheiro que resultava da sua actividade profissional. A ocorrência de nacionalizações e expropriações nesse país a partir de 1969 tê-lo-ão afectado profundamente, tanto financeira como psicologicamente. Alfredo Moreno Mendiguren faleceu em Outubro de 1971, com apenas 46 anos.[5]
Alguns dos habitantes do lugar ainda se recordam de, em criança, brincarem com os filhos deste diplomata, quando aqui passavam umas férias no solar, sempre sob o olhar atento das criadas que os acompanhavam.
No seu livro “Cenas de Um Ano da Minha Vida e Apontamentos de Viagem”, Alexandre Herculano definiu “estas airosas redondezas de Poiares como uma espécie de trecho rústico da América Inglesa”.[1] Na sua visita a Poiares, terá ficado algum tempo hospedado na Casa das Fontainhas, como nos conta o escritor José Dias Ferrão:[2]
Por volta do ano de 1853, estava em férias, na sua casa de Couchel, o dr. Francisco Ferreira de Carvalho, natural de Lombada (Vila Chã), que se havia doutorado na faculdade de Cánones da Universidade de Coimbra, em 31 de julho de 1824, e onde regia a cadeira de Direito Eclesiástico Português, em que foi substituído pelo meu antigo mestre e amigo dr. José Pereira de Paiva Pita, da Quinta da Várzea (Penacova). E encontrava-se também na Abraveia o padre José Vicente Gomes de Moura, grande humanista, professor aposentado do ensino das linguas grega e latina do antigo Colégio das Artes, hoje liceu de Coimbra.
Aproveitando esta oportunidade de fazer uma visita a estes dois homens eminentes, veio a Poiares Alexandre Herculano. Hospedou-se na Casa de Couchel, e ali estiveram os três amigos reunidos não sei por quanto tempo.
Mas o grande historiador queria aproveitar a sua estada ali para ir mais além, numa importante investigação científica e humanitária.
Queria atravessar o Mondego e ir ver Lorvão, o opulento mosteiro real das religiosas da ordem de S. Bernardo, um dos mais antigos da Europa, que fôra notável pelas suas preciosidades e pelas suas recordações históricas, onde repousam duas filhas de D. Sancho I.
Organizou-se uma pequena cavalgada, em que os dois amigos de Herculano o acompanharam até à barca do concelho, em frente da povoação da Rebordosa. Ia também na comitiva o referido cidadão Francisco Correia da Costa, que voltou para casa da margem do Mondego, com os dois ilustres poiarenses.
Na passagem em Santa Maria, o dr. Carvalho lembrou ao sábio historiador a lenda do «Bispo Negro», que ele conta como um romance da cavalaria medieval, nas páginas brilhantes das suas «Lendas e narrativas», e chamou-lhe a atenção para as inscrições gravadas nas ditas pedras que estão perto da igreja. Apearam-se e foram ver. O historiador deteve-se em frente das mencionadas inscrições. Examinou-as bem. Nada disse. Pediu, por último, a Correia da Costa que lhe mandasse, gravada em cêra, a que está na casa denominada o «celeiro», o que êste fez, sem que jámais tivesse notícia dela.
Se é certo que nada resultou da visita de Alexandre Herculano a Santa Maria, não sucedeu o mesmo com a sua estadia em Lorvão, porque do fundo do estreito, onde fica situado o convento, escreveu êle a memorável carta dirigida ao conselheiro António de Serpa Pimentel, que está publicada no volume I dos «Opusculos», onde, a par duma profunda e justa apreciação histórica, se revelam os mais nobres e elevados sentimentos de humanidade.
Dêste valiosíssimo documento, resultou que o Govêrno de então viesse em socorro das pobres freiras que ainda existiam naqueles ruinosos claustros, onde a tristeza, a fome e a velhice as ia matando lentamente.
Conta-nos Aniceto Ferreira Carvalho um episódio relacionado com a Casa das Fontainhas:[1]
Por certo a viver de pergaminhos, mas sem dinheiro para as obras, com ligações familiares à Casa da Abraveia, o remanescente da família das Fontainhas deixou Couchel para trás. É então que pelo final da Guerra aparece em Couchel um tal doutor Tomás que tem ligações por casamento à Casa da Abraveia que vem pôr a Casa das Fontainhas a brilhar.
Obras grandes numa povoação pequena dão nas vistas… E fica então a saber-se que o doutor Tomás é irmão do doutor Sanches da Gama, médico em Vila Nova de Poiares, e que, graças ao conflito mundial, se já era rico, ficou a deitar dinheiro pelas costuras.
O doutor Tomás trazia um reluzente automóvel azul-escuro, ou preto, que nunca mais acabava. BUICK EIGHT… estava lá escrito. E aqui entro eu: Tudo naquele automóvel era demasiado grande para não me extasiar. Com a ladeira molhada veio o dia em que nem todo o esplendor do luxuoso Buick o salvou de alapar no último troço da subida, a mais íngreme, antes de chegar à casa do meu avô.
Como sempre, quando a moderna tecnologia emperra, nada é melhor e mais eficiente que o recurso aos processos ancestrais. O meu avô tinha a solução: E assim, um fascinante último modelo de Buick chegou a Couchel rebocado por uma junta de bois.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
As capelas do concelho de Vila Nova de Poiares apresentam arquitecturas distintas. No entanto, a capela de Couchel é curiosamente semelhante à capela de Santa Madalena, que se encontra entre as povoações da Abraveia e Pinheiro. Apesar de com o passar dos anos ter beneficiado de algumas obras, nomeadamente no que toca à sacristia (a qual foi ampliada), fotografias antigas desta capela podem facilmente confundir-se com a de Nossa Senhora do Amparo, em Couchel, não fosse o seu alpendre e campanário.
Desta forma, tal como descreve António Filipe Pimentel a capela de Santa Madalena, a de Couchel também se compõe “de um edifício rectangular, de moderadas dimensões, que ao lado esquerdo se prolonga noutro que lhe supre as funções de sacristia”. Possui a porta principal, axial em relação ao templo, e “uma outra, mais pequena, serve de entrada lateral, no lado oposto à sacristia”.[1]
São várias as histórias e personalidades que ligam estas duas aldeias do concelho de Poiares, mais do que com quaisquer outras. A capela de Santa Madalena resulta de uma reconstrução de um templo já existente em 1778.[1] É conhecido também que essa capela esteve a cargo do padre José Vicente Gomes de Moura, entre 1816 e 1844,[1] amigo do padre Francisco Ferreira de Carvalho da Casa das Fontainhas.[2] Quanto à capela de Couchel, não é do nosso conhecimento em que ano terá sido construída.
O documento mais antigo nos registos da capela data de 1924, assinado pelo padre da Avessada, Francisco Ferreira de Carvalho Lucas. No que respeita a festas religiosas, é feita menção de uma festa em honra de Santo António em Novembro de 1946.[3] Em 1954, é divulgado o programa de festas em honra de Nossa Senhora do Amparo com Domingos Duarte de Carvalho, Caetano Fernandes de Carvalho, Joaquim Carvalho Pedroso, Ilídio Lopes e Artur Carvalho como mordomos.[4]
Em 1959 a capela encontra-se em elevado grau de degradação, o que leva Domingos Duarte de Carvalho a presidir uma comissão com vista a realizar as necessárias obras.[5] Os documentos mantidos pela comissão revelam a ordem de trabalhos:
Cimar as paredes 50 centímetros para ficar com 3,50m de altura. A sacristia com 3,50m de comprido por 3m de largo a aproveitar toda a altura que se lhe possa dar com as frestas e coberto com a telha velha, e o chão acimentado, com uma porta virada para a frente da capela e outra que é coberta ao lado do altar, todas as paredes são rebocadas com massa.
São vários os programas de festas que se podem encontrar nos jornais ao longo dos anos,[6][7][8][9] realizadas graças ao esforço de pessoas a viver ou com ligação à aldeia. A título de exemplo em 1979 anunciava-se:[8]
É já nos próximos dias 4, 5 e 6 de Agosto que se realizam nesta localidade as tradicionais festas em honra de Nossa Senhora do Amparo. O programa é o seguinte:
Dia 4 (Sábado) — Às 8 horas, alvorada; às 9, chegada do Grupo de Zés P’reiras. de Ribeira de Frades (Coimbra), que darão início às festas percorrendo todas as ruas da localidade; às 14, abertura da quermesse; às 16, início do primeiro torneio de tiro aos pratos, tendo em dispute valiosas taças; às 20, abertura do arraial; e às 21, chegada do Conjunto «Abba-Kay».
Dia 5 (Domingo) — Às 8 horas, alvorada; às 9, abertura da quermesse; às 16, missa e sermão, seguindo-se a procissão que percorrerá o itinerário do oostume, acompanhada pelo agrupamento musical «Os Rouxinois do Ceira»; às 19, leilão de oferendas; às 20-30, abertura do arraial; e às 21, chegada do popular Conjunto «Os Teclas», que abrilhantará, o arraial.
Dia 6 (Segunda-feira) — Às 8 horas, alvorada; às 9, abertura da quermesse e chegada do Grupo de Zés P’reiras, de Ribeira de Frades (Coimbra), que uma vez mais percorrerá as ruas da localidade; às 18, leilão de oferendas; e às 21, início do arraial abrilhantado pelo Conjunto «Sector 4».
Já neste século, a capela encontrava-se novamente a necessitar de obras, tendo sido realizados trabalhos após a tomada de posse de uma nova comissão, em 2004. Entre outras obras, foi arranjado o telhado, restaurado o altar e adicionada uma casa de banho para servir em ocasiões de missa e festa.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A casa do meu avô era a primeira à direita, logo à chegada a Couchel. Na verdade do meu avô por casamento com a minha avó. O meu avô tinha dois braços para trabalhar, e ao que me consta, um homem da cabeça aos pés. Tiveram seis filhos: O meu tio Adosindo, falecido de tuberculose, bastante novo, antes de eu ter nascido, o meu pai, o meu tio Joaquim, que era invisual, a minha tia Alcina, o meu tio José e a minha tia Dora.
Com excepção da minha avó, a matriarca, com quem mais convivia, que por isso andávamos constantemente os dois às turras, mas que dizia bem de mim a toda a gente, todos me adoravam na família. Mesmo nos tempos difíceis da Segunda Guerra, o meu avô tinha boa casa.
[Uma casa] tão velha que na trave superior da porta de entrada, num buraco aberto pelo passar dos anos, uma carriça vinha ali criar a prole como se tudo aquilo fosse da Joana… Uma carriça confiante e com sorte: Com sorte, porque o “charlot”, o gato lá de casa, dava saltos de cerca de três metros, do chão, na vertical, apanhava qualquer rato que mostrasse os bigodes entre o forro e o telhado.
A Velha Casa da Ladeira via-se, e vê-se ainda, da Estrada da Beira, na Tapada de Vale de Vaz, lá no alto, debruçada na várzea da Ribeira de Vila Chã. Era a casa do meu avô, em Couchel, onde fui criado até aos doze anos.
De frente, o portão do telheiro. À esquerda, por baixo das janelas, a porta principal da casa, das visitas, por onde entrava o padre na Páscoa. Mais à esquerda, que mal se veem, a porta de uso da casa, da sala de jantar e cozinha, a seguir um pequeno quarto, num corredor até ao quintal; a última porta da rua, um palheiro praticamente sem serventia na época.
Por cima, uma sala ampla, quartos, uma varanda de madeira virada para as terras de Couchel, para as Travessas, para a Avessada, por ali fora. Por baixo a loja: A adega, arcas, a salgadeira, potes de azeite.
O telheiro era dividido em duas partes: De um lado, a pocilga, o curral das ovelhas e das cabras, coelheiras; do outro, lenha de reserva, etc. A capoeira das galinhas era entre a saída da loja e a entrada do telheiro.
Na parte de trás da casa, excedendo o comprimento de toda a casa, um quintal do tamanho de um campo de futebol, com hortaliças do dia a dia na parte de trás da área habitada, a mais sombria e húmida, para o lado oposto aproveitamento geral, um pouco de vinha e árvores de fruto.
Com algumas poucas excepções para melhor ou para pior, o que nem sempre era o que parecia, a condição económica das gentes da minha região raramente era muito diferente do que se passava em casa do meu avô.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Para além do maior ou menor quintal caseiro que toda a gente tinha, eram nas traseiras do lugar até aos Marmeleiros, a Quinta do Senhor Abel, ao lado desta o sempre impecavelmente cultivado quintal do Ti António Henriques. Tudo do Ti António Henriques era maior e melhor. Os porcos, as galinhas, o milho da ribeira, os figos da figueira em frente do quintal do meu avô.
Desta vez o Ti António Henrique tinha semeado o quintal de nabos.
Depois de cerca de quarenta anos de pitrolino em Queluz, nos velhos tempos em que a actividade dava dinheiro e prosperidade, o Ti António Henriques tinha voltado à terra. Por infelicidade: Embora a rondar os sessenta anos, o Ti António Henriques não tinha regressado à terra para usufruir dos anos da velhice… homem ainda robusto, não fosse a doença da mulher, e o antigo comerciante não teria deixado tão cedo a Linha de Sintra.
O Ti António Henriques pertencia àquela rara classe de homens que cai sempre de pé… achava que os seus problemas e dificuldades só a ele pertenciam, e que, se os tinha, — e com a mulher acamada há anos tinha-os de certeza — não valia a pena lamentar-se pelas esquinas que ninguém lhos resolvia.
E por isso o Ti António Henriques era o maior lá na terra: Eram dele os porcos mais gordos, o milho mais alto, as maiores cabeças de nabo… para quem não soubesse que tudo aquilo era fachada num coração do tamanho do mundo, a primeira impressão do velho pitrolino era um desastre.
Toda a gente conhecia o Ti António Henriques… não havia nada a fazer.
Mais ou menos com a idade do meu avô, o Ti António Henriques teria os seus vinte anos no final do Século XIX. Ainda rapazote, porém homem feito de iniciativa, o Ti António Henriques descobrira que as serras de São Pedro Dias e do Carvalho lhe limitavam as vistas: Informou-se, passou uns dias na linha de Sintra, juntou uns patacos aos do António Lucas de Vale de Vaz, deixaram a terra, partiram a montar uma venda de azeite em Queluz…
Com uma força de vontade, capacidade de trabalho e esperteza que nem eles próprios sabiam ter, do Palácio Nacional à Venda Seca, de Massamá a Carenque, em poucos meses era tudo deles.
Com a experiência de Queluz em pleno andamento, a Amadora, mesmo ali ao lado, estava escancarada. Separaram-se de mutuo acordo pelo mesmo objectivo antes por eles traçado, com o António Lucas na nova venda de azeite na terra vizinha, assim nasceram dois dos melhores estabelecimentos do ramo nos arredores de Lisboa da primeira metade do Século XX.
O António Henriques ficou em Queluz. Homem de boa aparência, sanguíneo, de voz timbrada, o trato e a educação esmerada faziam parte da actividade, a quatro ou cinco anos do fim da monarquia o então jovem António Henriques prosperava. Considerado até por gente de outras galáxias, não admirava que o pitrolino fosse sensível à imagem que ele tinha criado de homem sério e batalhador, que ele se esforçava por alimentar e lhe fazia crescer o ego.
[…] eu era muito jovem, com dezassete anos, tinha passado os últimos cinco na mesma venda que há quase duas décadas atrás era do velho pitrolino lá da terra, apesar de saber que o Ti António Henriques escorria jactância pelos poros, não me fazia grande confusão que a própria Rainha Dona Amélia viesse à porta assistir às compras para o Palácio e falasse com ele. E as coisas ficaram assim.
Mais uns anos, a minha mulher achou que o Ti António Henriques era um velho petulante, que aquilo não tinha cabimento; eu estava nos vinte e seis anos, Queluz tinha passado na minha vida, tinha uma guerra pela frente, também me pareceu um bocado de exagero do antigo pitrolino. Mas, se calhar não era — penso eu hoje, talvez com mais objectividade. Suficientemente afastado, porém a dois passos da Lisboa, Queluz tinha ares de se confundir com um dormitório elegante da capital. Por lá habitava um Stuart Carvalhais, uma Mimi Gaspar e um Tomé de Barros Queirós no seu auge, gente ao mais alto nível na época, da política, da arte, do jornalismo, etc., que nem me passava pela cabeça quem eram nem quem pudessem ser.
Estamos em 1950, Queluz tem carreiras normais de autocarro do Eduardo Jorge a todas as horas nos Quatro Caminhos, no centro da povoação, na rua Elias Garcia, para Lisboa, da Estação dos Caminhos de Ferro para Belas, comboios uns atrás dos outros na linha de Sintra.
Eu moro a metros dos Quatro Caminhos. Durante quase cinco anos corro Queluz de uma ponta à outra, conheço de vista toda a gente, sei quem mora em todas as portas. Falo com a mulher do Stuart Carvalhais, com a mãe da Mimi Gaspar; o pai dos Condes, do Alfredo e do Manuel, cavaleiros Tauromáquicos da época, um ganadeiro da zona de Caneças, era um dos assíduos frequentadores das patuscadas no armazém do meu patrão, em geral cabrito assado no forno a lenha com batatas coradas.
Estavam lá todos, sete ou oito, gente da tauromaquia, das artes, etc., de samarra e chapéu à marialva no dia da colhida do Manuel dos Santos em 1948 quando chegou a ser anunciada a sua morte. Sou um simples empregado de 14, 15 ou 16 anos. Para além da cortesia e educação que a actividade de pitrolino exige, lido durante anos com gente do mais elevado nível sem o saber ou não ligar a isso a menor importância. Estou a falar de quase cinco anos de vida vivida em cheio em Queluz.
Quarenta e cinco anos antes, numa altura em que a monarquia portuguesa está no fim, quando toda a simpatia das elites afins é pouca, pelo que depois presenciei e vivi na pele na amistosa terra da Linha de Sintra, não me repugna rigorosamente nada imaginar a Rainha Dona Amélia a tagarelar com o simpático e educado pitrolino à porta de serviço do Palácio de Queluz.
Aproximadamente a meio do lugar, logo a seguir à modesta mas asseada casa dos Gandarinhos era a do Ti António Henriques. A casa do Ti António Henriques, uma verdadeira casa de lavrador, mais ao estilo ribatejano que beirão, era quase o ex-libris de Couchel: A adega encostada a casa dos Gandarinhos, uma casa bem delineada de águas furtadas a seguir, um amplo pátio servido por um largo portão, no lado oposto à habitação, currais, pocilgas, etc.
Um quintalão enorme nas traseiras, quase até aos Marmeleiros, e mais umas leiras, uma delas à Ponte, no início da ladeira para Couchel, faziam dos haveres do Ti António Henriques um património bem interessante. Herdado, por certo. Além da idade que as paredes deixavam adivinhar, também não era de supor que o Ti António Henriques tivesse ganho assim tanto dinheiro a vender azeite em Queluz, nem que, sem filhos, tivesse comprado uma propriedade daquelas para se entreter na velhice.
Embora ainda com bastante vigor, mas sem herdeiros directos, com a mulher acamada ainda antes dos sessenta anos, os últimos anos do Ti António Henriques tinham tudo para ser um drama. Não foram. O enorme ego e o indestrutível ânimo mantiveram o antigo azeiteiro de pé até ao último dia. […]
Pouco depois do Ti António Henriques ter voltado à terra devido à doença da mulher, foi a vez do cunhado dele de Vale de Vaz, o António Lucas, adoecer e deixar para trás a venda da Amadora. Morreu pouco depois. E assim os dois irmãos do meu avô, o António Lucas e a irmã, a mulher do Ti António Henriques, morreram os dois quase na mesma altura.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
As gentes de Couchel não eram dadas a grandes manifestações de loquacidade entre si. Não necessariamente por temperamento. Mas porque, depois de meses e meses nas leiras sozinhos consigo próprios, com o pouco que havia a dizer do dia a dia, cansados à noite, recolhiam-se, quase se desabituavam de falar. Não era o comum, dependia…
No entanto, com o Ti Diamantino era mais ou menos assim. O Ti Diamantino morava com o pai, um homem de avançada idade, num anexo em escombros, num quintal a seguir à casa do Ti Adelino.
Também antigo combatente na Primeira Grande Guerra, o Ti Diamantino era irmão do Casimiro do Alqueve, aquele que a título de visitar o pai e o irmão, vinha Couchel provar a pinga e passar um serão em casa do meu avô.
Das duas uma: Ou o Ti Diamantino era mesmo de poucas falas ou embirrava com criancinhas. No que me tocava acho que não. Pelo menos, lembro-me a maneira de ser fechada do Ti Diamantino pouco ou nada me afectava. E ficámos assim… Provavelmente porque nunca calhou a oportunidade de lhe puxar pela língua para ele me contar as aventuras da guerra.
Também me lembro do pai dele: Como os filhos, um homem alto e seco, contudo já então muito curvado pelo peso de muitos anos. Mal o conheci. Tal como a “prima Maria”, sogra do Ti Adelino, o Ti Bernardo, o pai da Perpétua “Caçoila”, e a minha visavó materna Margarida, na Tapada de Vale de Vaz, o Ti Alberto, pai do Ti Diamantino, era uma das três pessoas mais velhas de Couchel, de uma geração anterior à do meu avô.
A planta mostra a configuração actual, com uma nova casa entretanto construída.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A ocupar a curva do Alpendre, onde acabava a ladeira de Couchel e começava o planalto, era a casa do Ti Adelino do Alpendre. Uma casa de três partes: A cozinha e um anexo, em pedra nua sem reboque, ainda na ladeira, a seguir à casa da Senhora Marquinhas, depois duas dependências térreas pegadas, por fim a habitação do Ti Adelino uma sobreloja bonitinha que deixava perceber não havia muito tempo reconstruída ou remodelada. Nas dependências viviam a Tereza […], ao lado a “prima Maria”, a mãe da Tereza e da “prima Virgínia”, (primas sei lá porquê), a mulher do Ti Adelino.
A “prima Maria”, uma mulher viúva, pequenina e mirrada, era a dona das três frentes do lado esquerdo da rua, nas quais morava com a filha casada e com a Prazeres, e de uma outra casa em frente, do outro lado, onde vivia a outra filha a Maria, a mãe do Alberto “Mascarenhas”. […]
Quantas vezes estive lá em casa, mão mais que um pardieiro, a arrastar comigo o Alberto para a brincadeira, ou para esperar por ele para alguma das nossas anteriormente combinada. Não me lembro de a ter visto repreender o filho, mal humorada com alguém ou com a vida.
Era uma mulher pequenina, só pele e osso, por certo devido às vezes que tirava o comer da sua boca para que o filho não passasse fome. Talvez por isso tenha morrido muito cedo.
Meu melhor amigo desde ainda antes de ter entrado na escola de Vale de Vaz um ano depois de mim, o Alberto “Mascarenhas” era um tipo impecável que, quando estivemos pela última vez juntos nos nossos trinta anos de idade me deixou a indelével marca de ser alguém com quem se podia contar. […]
Depois que saí da terra só nos voltámos a encontrar aos trinta anos. Nunca mais. Foi pena. Acredito que tenhamos perdido ambos a suprema oportunidade de termos sido na vida dois grandes e verdadeiros amigos.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Em meados da década de quarenta, dos trinta e dois jovens de Couchel entre os vinte e os trinta anos, apenas seis teimavam nas dificuldades da terra aos riscos de outras paragens. Além destes restavam na aldeia seis miúdos a fazer a Quarta Classe para dali sair logo a seguir, os avós deles a entrar na terceira idade, e alguns pais destes à espera dos últimos dias neste mundo.
Com os Martins foi diferente: Numa família de oito pessoas, em cerca de quatro ou cinco anos a morte tinha-lhes levado mais de metade.
Um primeiro andar de sobreloja, um pátio interior, currais, arrecadações. Pegada com a do Matias, creio que por parentesco entre as duas famílias e os Pedroso de Vila Verde, não sei se por isso aparentemente mais farta, embora de estilos semelhantes aos das outras duas vizinhas, com a do Senhor Duarte, em frente, a casa dos Martins era de construção mais recente.
Sete pessoas: O velho Martins, que me esfregava a barba na cara e me fazia ir aos arames, a mulher dele, uma bondosa senhora da qual pouco me lembro, o Albano, paraplégico, irmão de um dos dois, me que levava a passear no triciclo de verga, os dois filhos, o Joaquim, que tinha uma quinta em Santa Clara, em Coimbra, o António, que estava com os pais, e dois rapazes de vinte anos, netos, o Armando, filho do Joaquim e o António, do António.
Em meia dúzia de anos morreram quatro da família: O primeiro foi o filho do António, com vinte anos, de tuberculose; a seguir foi o Albano, depois foram o irmão, o velho Martins, e o filho António quase logo atrás.
Não sei porquê, não me lembro de ter conhecido a mulher do António, a matriarca da família morreu ainda eu estava na terra.
De uma família de oito pessoas, (fora os parentescos de Vila Verde), quando saí da terra restavam o Joaquim Martins, a morar em Santa Clara, em Coimbra, e o filho, o Armando, nessa altura já muito longe de Couchel.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Fim da subida da ladeira de Couchel, no Alpendre a rua faz uma curva pouco acentuada à direita, a poucos metros a casa dos Gandarinhos.
Embora pequena e piso térreo, frente ao portal do Diamantino, encostada à adega do Ti António Henriques, pelos padrões de Couchel a casa dos “Gandarinhos” era uma casa bastante razoável, não muito antiga.
Apesar de mal os ter conhecido, salvo erro os Gandarinhos eram três: Duas irmãs, a Maria e a Celeste, e um irmão, que nunca conheci, parece que pouco sossegado com quem a minha avó me comparava muitas vezes.
A Celeste, casada com o Manuel, tinham uma filha, a Ondina, uma miúda que, ou por ser um pouco mais velha do que eu, ou por irem pouco à terra, mal me lembro dela dessa altura. Cerca de uma década mais tarde, talvez um pouco mais, estaria nos meus vinte anos, estive em casa deles em Alcântara. Apenas a Celeste estava em casa. Até hoje. Só voltei a ver a Leontina em 2010.
A Maria era casada, ou coisa assim, com um indivíduo enorme, ao que parecia um tipo extraordinário, de Carregal do Sal, um concelho na Beira Alta, não muito longe dali. Só podia. Talvez não fosse bem assim, mas achava eu que para aturar a Maria o grandão da Beira Alta só podia ser um santo.
A Celeste não, mas a Maria todos os anos vinha a Couchel de passagem para a terra do marido. Ficava sempre um ou dois dias. Possivelmente ansiosa por julgar não ter tempo de contar as novidades de Lisboa com vagar, engrenava a falar logo que chegava, uma hora depois, totalmente eufónica, ninguém lhe conseguia ouvir uma palavra. Todos os anos… era fatal.
No meu tempo de escola, um ou dois anos antes de deixar a terra, quem vivia na casa dos Gandarinhos era o Joaquim Catrapeiro. Embora não me lembre do nome, nunca mais me esqueceu a simpatia e bondade da mulher dele. […]
Tinham dois filhos: Um rapaz, quatro ou cinco anos mais novo que eu, e uma miúda pequenita. Estariam na terra ocasionalmente: Problemas de trabalho ou coisa assim… Couchel era um refúgio em casos desses.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Não sei se dele próprio, se de alguém que desde há muito tempo tinha esquecido o caminho para Couchel, a casa do ti Cesário Catrapeiro ficava à entrada da vereda para a Eira dos Santinhos. Umas das mais antigas do lugar, com um amplo pátio interior e um eirado pavimentado a laje de xisto murado debruçado na rua mesmo em frente das janelas da Quinta, a casa do ti Cesário, como a família, era apenas mais uma do lugar. […]
Os Catrapeiros, no entanto, como as gerações de Couchel da altura, antes e depois, não eram destituídos: No Joaquim Domingos, por exemplo, que tinha deixado a terra quase de pé descalço, não só construíra uma bela casa em Vale de Vaz antes dos quarenta, como o epíteto de “Mil e tantos” lhe assentava como uma luva pela capacidade de trabalho… dos outros irmãos Catrapeiros nada sei… contudo, acredito firmemente que, como toda a rapaziada de Couchel e das terras dos arredores da altura, devem ter deixado aos filhos uma vida bem melhor do que a que tinham herdado.
O ti Cesário Catrapeiro tinha sérios problemas de estômago. Conheci-o bem, lembro-me de lhe ter ouvido as agonias no eirado da casa dele, em frente à habitação da Quinta. O ti Cesário era um pouco mais novo que o meu avô, tinha uma data de filhos, o mais novo dos quais, o Zé António, andava na escola comigo e com os filhos do irmão mais velho.
A planta mostra a configuração actual, entretanto reformulada há várias décadas.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
O Ti Zé Galinha morava mesmo em frente do meu avô, do outro lado da rua. Sei lá porquê, “Galinha” não era alcunha que se cheirasse lá na terra. […]
Estive lá em casa por diversas vezes, a filha dele, a Albertina, e as minhas tias eram amigas de infância […]. O Ti Zé Galinha era um homem solitário, viúvo, precocemente envelhecido, a Albertina tinha casado tempos antes, o filho há vários anos fora da terra […]
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Tinha uma casa burguesa do Século XVIII, enorme, primeiro andar, lojas e arrecadações, quem os queria encontrar, a ele e ao filho, era no Covão ou na Ínsua de Sol a Sol e enxada na mão. […]
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A casa do Ti Ilídio era mesmo em frente da do Ti António Henriques. Uma casa de primeiro andar, ainda nova e bonita. Mas o Ti Ilídio, também já tinha dado a alma ao criador. O Ti Ilídio, no entanto, como sempre o tinha conhecido, era alguns bons largos anos mais velho que os meus pais.
Era um homem simpático e jovial por natureza, sempre bem disposto que, sei lá porquê achava graça à minha maneira de ser de garoto. Sempre que nos encontrávamos mais de quarenta anos mais tarde nunca perdia a oportunidade de me parodiar de quando eu era pequeno.
Devo ter lidado muito pouco com a mulher dele, com a Laurinda. Mal me lembro dela. Penso que não tinham filhos.
Quem morava na casa deles era o Ângelo, da Risca Silva que tinha casado em Couchel com a Heliodora, a filha da Maria do Valezinho, a irmã do Modesto. O Ângelo, dez anos mais novo que a geração dos meus pais, era um homem excepcional. Conheci-o muito bem.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A Hermínia vivia com a mãe numa pobre habitação dentro de um pátio, um verdadeiro pardieiro, no cimo de Couchel, em frente ao pomar da Quinta, numa casa antes de outra em ruínas na quelha das Fontainhas. […]
A planta mostra a configuração actual, com a casa entretanto reconstruída.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Maria do Valezinho — Mais uma das heroínas de Couchel.
[…] mãe do Modesto e da Heliodora, na quelha do Valezinho, nem pouco mais ou menos era a mais habitável… mas ali, como a Perpétua Caçoila a dois passos, ao virar da esquina, também ela viúva, tinha criado dois filhos espectaculares.
Perto dos meus dez anos de idade, com mais de vinte rapazes e raparigas na casa dos vinte anos, o futuro de Couchel parecia garantido… Pois parecia.
Mas três anos depois, com excepção do Ângelo e da Heliodora, do Luís, filho da Perpétua Caçoila e do Modesto entretanto casados, e do Alfredo, também já casado com a minha madrinha Dora, que teimavam em ficar na terra, nem os da minha geração já lá estavam depois da Instrução Primária.
Na planta não consta uma habitação mais antiga, logo abaixo, que foi demolida em 1998 aquando do restauro das casas adjacentes.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
O António da Quinhas teria uns onze ou doze anos quando entrei na escola. Já crescidinho dava cabo da cabeça das miúdas a fazer-lhes judiarias. Mãe viúva, com grandes dificuldades, acabou a Quarta Classe, teve de zarpar para Lisboa. O irmão dele, o Domingos, era da minha idade.
Morrera-lhes o pai há pouco tempo, estavam a passar uma daquelas. Lembrava-me vagamente disso: Do pai deles, um homem alto, de gabardina branco sujo, que até a mim me surpreendia pela magreza doentia. De repente tinha regressado a Lisboa, tentar fazer face à doença.
Morreu pouco depois. A Quinhas voltou à terra com os filhos, (a contar com a ajuda da sogra, a morar em frente). Assim que o Domingos acabou a Quarta Classe comigo, no mesmo dia, ainda saíram da terra primeiro que eu. […]
(A casa onde morava a avó dele, foi mais tarde comprada pelo meu pai).
Teria os meus nove ou dez anos, andava na Ribeira do meu avô ao pasto para os coelhos, dei uma forte foiçada na base papuda do polegar da mão esquerda, o sangue jorrou como numa torneira. (Ainda cá tenho a marca).
Assustei-me, sozinho, sem saber que fazer, desatei num berreiro.
A Quinhas andava a trabalhar do quintal, no alto da arriba que se debruçava para a Ribeira, onde eu estava. Lá de cima mediu a minha aflição.
- Que foi, Aniceto? — perguntou. Disse-me para ir ter com ela.
Galguei os 50 metros de falésia quase a pique em dois pulos. Golpe feio, tinha deixado pendurados um bom pedaço de carne e pele quase na palma da mão… Nada demais nas mãos milagreiras de um mulher.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A senhora Marquinhas, uma antiga e bem sucedida criada de servir em Lisboa, vivia o declinar da vida em Couchel, estável, sem misérias nem aflições, tinha uma bonita casa quase em frente da dos meus avós. Eram da mesma idade e compadres. A senhora Marquinhas conservava os traços de uma mulher interessante, o meu avô, sabe-se desde quando, tinha um fraquinho por ela.
Tudo quanto de mais distante eu guardava na memória eram os últimos dias da construção da casa da senhora Marquinhas. Vagamente, muito vagamente… uma sequência de imagens difusas. Era daí que mais longe eu recordava a senhora Marquinhas, de um dos primeiros anos em casa dos meus avós, em Couchel, para onde a minha madrinha, a tia Dora, me tinha levado, mal eu tinha acabado de abrir os olhos. Não que eu fosse algum prodígio… mas porque, simplesmente, no despertar para a vida poucas coisas escapam aos olhos de uma criança de dois ou três anos no meio de uma azáfama de gente que se movimenta e de cores que se sobrepõem e confundem.
A meia dezena de anos dos sessenta, ainda a tempo de aproveitar uma velhice tranquila, a senhora Marquinhas acabava de regressar à terra. Vizinha muito chegada, ainda madrinha de um dos seus tios, quando eu soube quem era, a senhora Marquinhas era praticamente da família.
Quatro dezenas de anos antes, contudo, uma outra senhora Marquinhas que acabava de ultrapassar o principio da adolescência a meados da última década do Século XIX, chega a Lisboa… traz na bagagem uma boa dose de saber inato, nem lhe passa pela cabeça abrir mão do bom senso com que a mãe natureza a presenteara. A Maria José que aos setenta anos recebia o Diário de Notícias todos os dias numa terra entre o Mondego e o Ceira a vinte e tal quilómetros de Coimbra, sabia meio século antes que jamais iria deixar que os limites de criada de servir de modo algum fossem o seu destino.
Rapariga engraçada, sobretudo atilada, a futura senhora Marquinhas sabe o que quer e para onde vai… Sempre um passo à frente das obrigações, tem os patrões na mão e mundo aos pés. Todos os minutos livres são para se cultivar, o arado e a aiveca que lhe vão rasgar os horizontes.
Sabe que as mais pindéricas são as piores patroas, informa-se com todo o rigor, as primeiras casas dão-lhe o que esperava, o salto é inevitável. Mal passados os vinte anos é governanta numa casa de alto gabarito, dona e senhora, alcança o que todas levam um vida inteira para lá chegar.
Cabeça firme, a jovem Marquinhas percebe muito bem que se as raparigas como ela são uma raridade, decide também e firmemente que nunca será só do futuro marido o privilégio de a escolher para a levar ao altar.
É então que a sorte compensa os que lutam por ela: A ainda jovem dona da casa deixa viúvo um funcionário perto dos quarenta anos bem de vida, de repente toda a competência e capacidade da jovem Maria José vem ao de cima, é por um pouco que o senhor doutor nem dá pela morte da mulher.
Os meses passam. A jovem governanta sabe o que quer, para onde vai, não arrisca passos em falso, o senhor doutor tem uma vida ocupada e de grandes responsabilidades, considera que com o que tem à frente dos olhos não tem tempo para experiências, o desfecho é inevitável.
Cria um filho, depois de uma serena vida de dona de casa sem percalços, fica também viúva; quando o filho segue também o seu caminho, a senhora Marquinhas resolve que nada mais está a fazer em Lisboa: Junta ao pecúlio amealhado a herança do marido falecido, a dias da Guerra Civil Espanhola volta a Couchel, ao promontório das margens da Ribeira de Vila Chã.
Além da alteração à rotina, e porque a casa da Senhora Marquinhas era a seguir à do meu avó, quase ao lado, porque era também, e foi durante largos anos a mais bonita do lugar, nada melhor que obras ali ao pé para trazer os olhos de um miúdo de três anos esbugalhados até à nuca.
E foi assim que eu conheci a Senhora Marquinhas: Uma mulher rechonchuda, com claros traços de uma antiga beleza discreta, sem rugas de amargura, com a vida planeada para uma velhice tranquila, sem sobressaltos, ainda antes dos sessenta anos, a viver com a irmã, a senhora Delfina, a fazer da antiga casa da familiar uma das mais bonitas habitações de toda aquela zona.
Na verdade, de alguém que andava por ali, que eu nem sequer distinguia do meu avô, da minha avó ou dos meus tios, meses depois das obras, o terraço da Senhora Marquinhas era um local confortável, tudo em volta era interessante, eu gostava de andar por ali nos primeiros giros exploratórios.
Tenho cerca de três anos, a casa do meu avô é logo em baixo, a uns metros, só estou na rua sozinho porque alguém está por perto: A senhora Marquinhas e a irmã, a senhora Delfina, estão debruçadas no corrimão da escada para o terraço, de esguelha para a rua, a conversar com o António Vaz (o Ti Zanaga), de passagem por Couchel, ninguém repara (nem era caso para isso), que eu acabava de subir a ladeira, que estou a brincar com o Mondego, o cão da Avessada, um Serra da Estrela com quase um metro de altura, ali a dois passos às voltas com um osso que acabava de encontrar.
Dois segundos, não mais. No seguinte até o poderoso Serra da Estrela ficou em pânico ao se aperceber que o braço que ele acabava de abocanhar era o do miúdo que ele conhecia muito bem.
As duas irmãs saltam os três degraus da escada, transpõem a cancela, com uma agilidade que lhe contraria as idades, seguram-me nos braços. Dois caninos marcados ao de leve, à flor da pele. Nada mais. O próprio Mondego, assustado, tinha suspendido a dentada antes de a concluir.
Fico a conhecer a Senhora Marquinhas para toda a vida.
Tempo depois foi a vez do meu avô explicar: “Nunca passes por trás dos bois, burros, cavalos, animais desses, muito menos no escuro… podem confundir-te, não sabem o que é, e é muito perigoso”. Percebi, guardei a lição para todo o sempre…
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A seguir à da senhora Marquinhas construída já no meu tempo, em modernidade e beleza, apesar de mais antiga, a casa das mulatas, entre o Cesário e a mãe da Hermínia, era também bastante recente em Couchel.
Apesar das afinidades que de certa maneira me ligavam às mulatas, mais do que com a maioria das pessoas do lugar, nunca me esforcei para conhecer as mulatas, nem nunca cheguei a saber se elas sabiam quem eu era.
As mulatas eram três: A mãe e duas filhas, das quais apenas me lembra o nome da mais nova, a Laura, na altura pelos trinta anos… e um filho, o Tito Lívio que, pelo total desinteresse da mãe e irmãs para comigo, nunca percebi porque razão teria sido ele o meu padrinho de baptismo. […]
O Tito Lívio era, todavia, sobrinho do Pedroso velho, e por isso gerente da fábrica de curtumes do tio em Rio de Mouro. O Pedroso era irmão do Matias, do Martins, por certo de mais alguém, talvez do pai do Tito. […] tinha uma fábrica de curtumes em Rio de Mouro, pelo menos mais duas, uma em Vila Verde outra em Alcanena.
A planta mostra a configuração actual, com a casa entretanto reconstruída.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
As Piloas eram duas irmãs que moravam num pardieiro milenar de paredes nuas de reboco, dentro de um pátio, a seguir a casa do senhor Duarte. Uma delas era a mãe do António Pilão.
A planta mostra a configuração da casa actual, completamente reconstruída em 1997.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
Pegada com a do Ti António Henriques, a casa do meu pai tinha sido da sogra da Quinhas que, enquanto viveu em Couchel, morava em frente.
Trazia aviões a esvoaçar na cabeça, não percebi, nem me interessou. Mas com dezassete anos e como filho mais velho, acho que o meu pai me ficou a dever uma palavra que ia vender a casa da minha avó materna na Tapada de Vale de Vaz para comprar a casa da sogra da Quinhas em Couchel. Nem sequer podia alegar que eu não estava na terra. Era como se estivesse:
Eu estava na terra em Junho, era ele ainda caseiro da Natividade, quando regressei de Vila Nova de Gaia em Outubro já ele morava em Couchel. […]
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A casa do António Pilão, mais tarde António do Seixo Branco era, de facto, a ultima casa do lugar, a seguir à Quinta e às Fontainhas, antes do cabeço, na bi-furcação da vereda para a Avessada. Casa nova, foi construída já depois do casamento dele com a filha do Matias, já eu não estava na terra.
Boa gente, embora por pouco tempo na terra, mal tenha lidado com eles. Mas lembro-me bem: Da Maria, a mulher dele, de luto carregado pelo falecimento da mãe, a mulher do Matias, que ainda conheci, e dele, acima de tudo, porque nunca esqueci que ele me tinha emprestado a bicicleta durante um mês para eu tratar dos documentos para ingressar na Aviação Militar.
O que Vale de Vaz tinha de miúdas a mais, tinha Couchel a menos. Até ao fim do meu tempo de escola, a não ser uma ou outra forasteira, em Couchel nem uma para amostra. Talvez umas duas, muito pequenas: no cabeço e a filha do Joaquim Catrapeiro. Mais nada. Até que nasceu a Melita, a filha do António do Seixo Branco e da Maria do Matias, já eu era crescidinho.
Parece-me que de miúdas em Couchel, só a minha irmã mais nova alguns anos depois… porque quando chegou a altura da Melita entrar na escola alguém a levou para Coimbra, por lá estudou, por lá casou, por lá ficou, sem no entanto ter deixado de ir e fazer temporadas na terra com frequência.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.
Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]
A Dona Perpétua, (Dona “Órfã”, sabe-se lá porquê), acho que era de Couchel, talvez a herdeira da propriedade, uma casa burguesa, do mesmo tipo e época da do Matias e da do Martins, com um bom pedaço de terra.
Era uma mulher simples, que se dava com toda gente. […]
A Dona Perpétua de Jesus Duarte era esposa de Domingos Duarte de Carvalho.
Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.
Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:
Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.