Casa de Vale do Forno por Aniceto Carvalho

Seguem-se algumas memórias desta casa e dos seus proprietários deixadas por Aniceto Carvalho, e que correspondem ao período em que habitou em Couchel, entre 1935 e 1947:[1]

Vale do Forno era uma zona de Couchel, fora do lugar.

Era onde morava o Joaquim do Vale Forno, numa casa sozinha, rodeado por umas leiras de cultivo, pinheiros e mato, longe de tudo.

Ele, a mulher e o neto, o João de Vale do Forno. Os filhos e as filhas, da geração dos meus pais, há muito que tinham deixado a terra. O avô do João de Vale do Forno, o ti Joaquim de Vale do Forno, tinha pelo menos duas pedras de afiar ferramentas de gume no pátio; o quintal do ti Joaquim de Vale do Forno era paragem obrigatória sempre que por ali passáva-mos para “ir à lenha”. […]

Mesmo que os machados estivessem capazes de se fazer a barba com eles, era do ritual que por ali ninguém passava sem os amolar até cheirarem a alho.

Íamos buscar um caco de água para deitar na pá do machado e não lhe deixar aquecer o gume, o Ti Joaquim de Vale do Forno sentenciava:

  • Borrifar com água? Um machado é amolado com o suor da testa!

Era a brincar, nós sabíamos… contudo, embora pequenos, há muito que sabíamos bastante bem o que ti Joaquim nos estava a querer dizer.

Aniceto Ferreira de Carvalho nasceu em Março de 1935, na localidade de Vale de Vaz. Cresceu em Couchel e, terminada a 4ª classe, foi trabalhar para Rio de Mouro (Sintra). Aos 17 anos ingressou na Força Aérea Portuguesa como mecânico de avião e mais tarde como especialista mecânico de material aéreo. Veterano da Guerra do Ultramar, faleceu no mês de Março de 2020.

Fica a nota aos leitores que o mesmo deixou nos seus escritos:

Que fique bem claro: Nenhum dos epítetos locais ou situações vividas tem a menor intenção de menosprezar seja quem for.