Escola Primária de Vale de Vaz

Seguem-se algumas memórias relacionadas com a escola primária durante o final da década de 90:

Em certos aspectos notava-se que esta era uma aldeia do interior profundo, mesmo estando a poucos quilómetros de Coimbra. Uma dessas circunstâncias diz respeito à antiga escola primária que, como muitas outras, encerrou portas em 2006 com a reforma da rede escolar.

As crianças de Couchel aprendiam na escola primária de Vale de Vaz, um edifício construído ao estilo do Estado Novo. Este estabelecimento substituiu o anterior que também ficava em Vale de Vaz, de frente para a capela (actualmente um domicílio). Na segunda metade dos anos noventa eram, em média, dez os inscritos nesta escola, contando os quatro anos do ensino primário. Um único professor ficava encarregue de ensinar, ao mesmo tempo, alunos dos vários anos de escolaridade.

Muitos dos estudantes iam a pé para as aulas, não havendo qualquer tipo de transporte público. Não havia cantina, e por isso nalguns anos lectivos optou-se por não se realizar lição à tarde, para que os meninos que vinham a pé pudessem almoçar em casa. Alguns vinham sozinhos, o que causava preocupação aos pais, visto que tinham de atravessar a movimentada Estrada da Beira.

Como em todas as outras escolas daquele tempo, havia o quadro preto de ardósia, as carteiras individuais, alguns materiais escolares e jogos (como o tangram). O docente que aqui esteve colocado durante os anos noventa foi o professor António. Conimbricense, era rígido, munido da sua cana e régua, que não se coabia de usar quando necessário, mas era extremamente dedicado, preocupado e competente.

O aquecimento da sala da escola era feito através de uma salamandra a lenha. O problema é que, apesar da insistência do professor António, em alguns invernos, não havia nenhuma entidade que se responsabilizava por fornecer lenha. Por isso, numa ocasião excepcional, este educador trouxe consigo uma motosserra, podou as oliveiras que existiam em frente da fachada e à volta do recreio, e as crianças foram acartando a lenha para a arrecadação, antes de começarem a lição.

Não havia biblioteca, mas era recebida ocasionalmente a visita da Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, que estacionava no largo à frente do restaurante Escorpião. Uma carrinha vermelha, com estantes cheias de livros, que se podiam requisitar e devolver numa visita posterior. Havia também um senhor, do qual não me recorda o nome, que deveria morar nas redondezas, e que todos os anos oferecia alguns escudos ao melhor aprendiz daquele ano lectivo, para poder comprar um livro à sua escolha.

Apesar destas histórias poderem parecer estranhas, especialmente por ocorrerem numa altura em que o ensino era muito mais evoluído em tantas partes do país, esta escola primária era apreciada pelas crianças e pais, muito graças à qualidade dos professores que aí leccionaram.